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Ácidos húmicos é um estímulo às raízes secundárias

Autores

Marihus Altoé Baldotto
Lílian Estrela Borges Baldotto
lilian.estrela@ufv.br
Professores da Universidade Federal de Viçosa

Fotos: Shutterstock

Os ácidos húmicos são substâncias que compõem a matéria orgânica de solos, sedimentos e adubos orgânicos. Durante a compostagem, resíduos de auxinas e hormônios vegetais são complexados na matéria orgânica humificada, especialmente na estrutura dos ácidos húmicos.

Ao aplicarmos os ácidos húmicos nas plantas, normalmente em solução (e/ou suspensão) aquosa, esses resíduos hormonais atuam no metabolismo das plantas com efeitos “auxínicos”, tais como o estímulo à emissão de raízes laterais.

Dentre todos os efeitos dos ácidos húmicos (veja mais detalhes na revisão escrita na edição comemorativa dos 75 nos da Revista Ceres da UFV) http://www.scielo.br/pdf/rceres/v61s0/11.pdf), a emissão de raízes laterais facilita os mecanismos de transporte dos nutrientes do solo às plantas, incrementando a sua absorção. Plantas bem nutridas toleram muito melhor os estresses bióticos (e.g., pragas, doenças, plantas daninhas) e abióticos (secas, toxidez, etc.) e produzem de forma ótima.

Manejo

Nossos resultados mostram que a aplicação dos ácidos húmicos é bem sucedida quando efetuada antecedendo as mudanças de estádios de desenvolvimento (fases da vida das plantas), por exemplo. Isso acontece desde a germinação, no caso da propagação seminífera ou na clonagem/cultura de tecidos, quando a propagação é vegetativa.

Daí em diante as aplicações podem ser direcionadas às mudanças de estádio vegetativo, quando as plantas alteram seu metabolismo. Podemos dizer que os ácidos húmicos são estimulantes do metabolismo, ou seja, bioestimulantes. A aplicação, portanto, garante estímulo nas fases de crescimento/desenvolvimento vegetal.

O tratamento do material propagativo com soluções de ácidos húmicos é muito comum, com algumas horas de contato entre as sementes, clones (estacas), bandejas ou tubetes de mudas. Nas fases seguintes, experimentamos a pulverização com bons resultados.

Otimização do processo

O mais importante é usar um ácido húmico isolado de matéria orgânica adequadamente humificada e calibrar a concentração correta, pois o efeito depende da quantidade aplicada em solução. Ácidos húmicos extraídos de adubos orgânicos com adequada compostagem e materiais bem escolhidos, de vermicompostos e de bokashi, estão entre os que melhor funcionaram em nossos estudos.

Como aditivos, nosso grupo já observou efeitos positivos de ácidos orgânicos, como o ácido cítrico, e da aplicação conjunta com simbiontes (bactérias promotoras de crescimento de plantas). No caso do ácido cítrico, há uma simulação do efeito da rizosfera, pois as plantas não esperam passivamente que o solo ceda nutrientes, mas de certa forma tomam, usando mecanismos que precisamos estudar cada vez mais. Um deles é a síntese e exsudação de ácidos orgânicos, que modificam o pH, o estado redox e a força iônica do meio, melhorando a capacidade dos ácidos húmicos em disponibilizar as substâncias bioestimulantes.

Ganho de produtividade

A maioria dos estudos mostra efeitos positivos dos ácidos húmicos, em grande parte acima de 10% de ganho, não sendo raro superar 40%. Contudo, um menor número de nossas experiências revelou ausência de efeito, caso de algumas pastagens, talvez pela razão de as pastagens já serem plantas de metabolismo muito ativo, com forte produção hormonal.

Vale ressaltar que os ácidos húmicos são substâncias naturais e com baixo custo.


Investimento

Estimamos o custo da aplicação, arredondando, para cima, de um dia de serviço geral rural por hectare, pois 1,0 kg de matéria orgânica, como de adubo orgânico via compostagem, geraria ácidos húmicos para aplicar várias vezes nas lavouras de 1,0 ha.

A extração se dá em solução de hidróxido de sódio diluída, por exemplo, podendo ser adaptada para as unidades produtivas rurais. Nosso grupo fez os ajustes e dimensionou um protótipo de equipamento de extração em um projeto de extensão universitária, o qual fizemos para colocar em rede de colaboração, sendo, portanto, um prazer garantir que ele chegue a quem interessar e nos contatar.


Viabilidade

Como mencionado, o custo é muito baixo e exequível em nível de campo, com estrutura necessária facilmente adaptável. Então, consideramos que os benefícios devem ser aproveitados pelos produtores, para que plantas mais eficientes venham proporcionar economias na aplicação de fertilizantes, quase sempre com base em recursos naturais não renováveis, um ponto a melhorar em nossa agricultura.

Nossa atuação científica e extensionista, marcada ainda pela nossa experiência pregressa como produtores agropecuários, nos fez escolher as substâncias húmicas como foco de trabalho já há quase 20 anos. Estimular o metabolismo de plantas com hormônios é relativamente pouco pesquisado, mas estamos caminhando.

Entretanto, percebe-se que as pessoas não estão dispostas a consumir alimentos com hormônios sintéticos. Como os ácidos húmicos são substâncias naturais já presentes nos ecossistemas, seu uso não traz rejeição pelos consumidores, muito devido aos conceitos de reciclagem/destinação adequada dos resíduos orgânicos, o que é nossa obrigação, antes de irmos aos recursos naturais buscar somente o suficiente.

Ou seja, a tecnologia dos ácidos húmicos traz benefícios diretos à produtividade e indiretamente nos clareia os caminhos para a produção agropecuária no presente e futuro, para tolerarmos a industrialização dos recursos naturais sim, sem extremismos, mas fazendo o dever de casa com a reciclagem e aproveitamento máximo do que já retiramos da natureza, nos lembrando que nela, nada (deve) se perde (r), nada se cria, tudo se transforma.

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