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Fertilizantes organominerais e sua aplicação na agricultura

Autores

Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
rmqlana@ufu.br
Miguel Henrique Rosa Franco
Doutor em Agronomia – UFU
Mara Lúcia Martins Magela
Danyela Cristina Marques Pires
Doutorandas em Agronomia – UFU
Foto: Vigorfert

Atualmente, muito se tem falado sobre a real eficiência dos fertilizantes organominerais e qual a sua correta recomendação para aplicação no campo. Com intuito de responder algumas destas perguntas e esclarecer estes pontos com pesquisas científicas fundamentadas, elaborou-se o comunicado técnico a seguir, com perguntas e respostas sobre este tema.

1. Fertilizante organomineral é qualquer mistura entre uma matéria orgânica e um fertilizante mineral?

Diferentemente do que alguns técnicos dizem, o fertilizante organomineral não é uma simples mistura entre um fertilizante orgânico e um mineral sem nenhum critério para produção. Para fabricação de um fertilizante organomineral, é necessário que o fabricante estabeleça processos produtivos delimitados para tal fim e siga a Instrução Normativa nº 25, de 23 de julho de 2009, exigida pelo MAPA, como:

Ü Compostagem assistida da matéria orgânica utilizada para produção;

Ü Garantias mínimas de quantidade de carbono orgânico (mínimo de 8%) – o que proporciona um teor de aproximadamente 40% de matéria orgânica compostada adicionada no processo produtivo e 60% de fertilizante mineral.

Ü As garantias de nutrientes devem estar declaradas no rótulo e baseadas nos teores solúveis e totais. Deste modo, no processo produtivo de fertilizantes organominerais sólidos é permitido a adição de fosfatos, termofosfatos ou outras fontes parcialmente solúveis, porém, os teores de fósforo declarados na etiqueta dos fertilizantes organominerais são baseados nos teores solúveis em ácido cítrico ou CNA + água, oferecendo assim ao produtor uma clara informação da concentração dos teores solúveis e quais matérias-primas foram utilizadas na produção do fertilizante.

2. Quais são os benefícios de se usar fertilizantes organominerais?

Os fertilizantes organominerais, além de levar a fração mineral, carregam também a fração orgânica em sua composição. Essa fração orgânica é responsável pela melhoria in loco sobre os parâmetros físicos (aumento na disponibilidade de água, formação de agregados, melhoria na porosidade e aeração, diminuição da densidade do solo), químicos (aumento da CTC na rizosfera, fornecimento de ácido húmico, fúlvico e aminoácidos) e biológicos do solo (aumenta a proliferação e biodiversidade de microrganismos benéficos na região da rizosfera).

Proporciona, também, benefícios no metabolismo das plantas (favorece a produção de auxinas nas raízes, maior crescimento radicular, diminui efeitos de estresses bióticos e abióticos e melhora a qualidade final do produto).

Além disso, a proteção da matéria orgânica presente nos organominerais reduz perdas por lixiviação, volatilização e fixação dos nutrientes após a sua aplicação no campo. Essas vantagens são devido à composição do organomineral, que possui: carbono orgânico, ácido húmico, ácido fúlvico, aminoácidos, hormônios vegetais, microrganismos e outros elementos acompanhantes, como N, P, K, Ca, Mg, B, Si, Ni, Cu, Mn, Co, Mo, Fe, Zn e Cl.

Como exemplo, algumas análises feitas em laboratórios demonstram que os fertilizantes organominerais têm, em média, 1,94% de aminoácidos, 8,8% de ácidos fúlvicos e 11,1% de ácido húmico em sua composição, o que demonstra seu grande potencial para melhoria das características fisiológicas e fotossintéticas das plantas.

3. Todos os fertilizantes organominerais são iguais? Que tipos de fertilizantes organominerais existem no mercado?

A generalização sobre o termo organomineral (OM) é muito comum e é preciso ter cuidado com esse fato. Assim como muitos produtos presentes no mercado, os fertilizantes organominerais também possuem variações em sua composição e forma.

 Os principais tipos de fertilizantes organominerais encontradas no mercado são: OM Peletizado, OM granulado e OM farelado, sendo que estes podem variar em fertilizantes OMs advindos de misturas de grânulos ou ainda de fertilizantes OMs que contenham NKP no mesmo grânulo. Portanto, ao se adquirir um fertilizante organomineral, o produtor deve sempre buscar informações sobre qual seu aspecto físico e qual seu modo de produção, pois certamente estes aspectos impactam a eficiência final do fertilizante e a recomendação do produto no campo.

Vale ressaltar, também, que o cálculo da adubação sempre deve ser feito levando em conta a equação baseada no fator de eficiência dos fertilizantes utilizados:

Adubação = (Planta – Solo) x f (Fator de eficiência)

4. O fertilizante organomineral pode ser classificado como especial?

Os fertilizantes especiais são produtos que possuem em sua constituição propriedades que melhoram a eficiência dos nutrientes. Devido às suas propriedades físicas, químicas e biológicas, estes fertilizantes possuem maior eficiência (fator de eficiência) e redução de perdas dos nutrientes presentes nos mesmos. Com isso, os fertilizantes organominerais (OMs) podem sim ser classificados como fertilizantes especiais.

Recentemente, algumas pesquisas científicas (teses, dissertações e artigos científicos) vêm comprovando a maior eficiência dos fertilizantes organominerais quando comparado com o fertilizante mineral convencional, como exemplo trabalhos conduzidos por Souza et al. (2013), Franco (2019), Teixeira (2013), Machado (2015) e Teixeira et al. (2010).

5. O que é o fator de eficiência ou equivalência de um fertilizante?

O fator de eficiência ou equivalência de um fertilizante é uma equação baseada em uma metodologia científica que utiliza como base a medida da produção de massa seca das plantas e compara os resultados obtidos na aplicação de um determinado fertilizante especial com os valores encontrados quando da aplicação do fertilizante mineral (Geodert et al., 1986).

Uma das finalidades deste estudo é expressar a porcentagem equivalente que um determinado fertilizante especial é mais eficiente do que o fertilizante mineral convencional, levando em conta fatores como o melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas e a redução de perdas (volatilização, fixação e lixiviação).

A partir deste estudo é possível avaliar a dosagem que deve ser utilizada deste fertilizante especial em comparação com o fertilizante mineral convencional, e assim fazer o que é chamado atualmente de recomendação de adequação, ou ajuste de demanda por nutriente no campo, sem prejuízo para a fertilidade do solo e produtividade das culturas.

Esse fator de eficiência explica também o aumento de produtividade encontrado quando se usa os fertilizantes especiais nas culturas, mesmo com a redução de doses (menor quantidade de NPK em relação ao fertilizante mineral convencional).

Em trabalho conduzido por Alane (2015) em soja, constatou-se que com a aplicação de 200 kg ha-1 do organomineral 03-15-15 a produtividade da soja foi a mesma obtida quando se aplicou 400 kg ha-1 do fertilizante mineral 04-20-20.

6. Existem, atualmente, pesquisas demostrando o fator de eficiência dos fertilizantes organominerais?

Existem inúmeras pesquisas que mostram o fator de eficiência dos fertilizantes organominerais. Estas pesquisas são, por sua vez, baseadas na redução dos fatores de perda advindos da aplicação dos fertilizantes organominerais e no cálculo dos fatores de eficiência destes produtos, quando comparado ao fertilizante mineral.

Com isso, atualmente temos dados significativos, comprovando que a adequação de dose pode ser utilizada como uma ferramenta na aplicação do fertilizante organomineral no campo, mantendo a fertilidade dos solos e ainda trazendo ganhos de produtividade.

Como exemplo, trabalhos conduzidos por Machado (2015) avaliando a volatilização de NH3 em diferentes tecnologias de fertilizantes, concluiu que os organominerais reduziram a volatilização de N-NH3, quando comparado com fontes exclusivamente minerais.

Souza et al. (2013) constataram que o fósforo oriundo do fertilizante organomineral ficou mais disponível no solo que a fonte mineral (Superfosfato Triplo). Em pesquisa conduzida por Moreira (2018) foi verificado que fontes organominerais possibilitam relações de bases mais equilibradas no solo, além de reduzir a saturação por alumínio.

Teixeira (2013), na cana-de-açúcar, observou que o fertilizante organomineral proporcionou maior teor de K trocável nas camadas superficiais do solo, além de demonstrar ser mais eficiente em todas as doses avaliadas, podendo substituir o fertilizante mineral e apresentar até 15% a mais de eficiência na produção de colmos.

Em pesquisa conduzida por Sousa (2014), observou-se que o organomineral foi mais eficiente que o fertilizante mineral em cana-planta e também cana-soca, sendo possível substituir o mineral e ainda apresentar até 24% a mais de eficiência na produção de colmos.

 Ramos (2013) observou que a produtividade da cana-planta foi superior com a utilização do uso de fonte organomineral em relação à adubação mineral. Gonçalves (2018) também observou benefícios desse fertilizante, formulado com torta de filtro ou biossólido, na cana-de-açúcar por meio de avaliações de biometria.

Franco (2019), avaliando fontes organominerais na cultura do milho, concluiu que o fertilizante organomineral acrescido de substâncias húmicas mostrou-se mais eficiente, podendo, inclusive, substituir a adubação mineral.

Magela et al. (2019) observaram, na cultura do milho, que fontes organominerais à base de biossólido substituem eficientemente a adubação mineral, mantendo e melhorando a fertilidade do solo sem contaminação por metais pesados.

 Krolow (2011), na cultura do milho, avaliando a influência de fertilizantes na macrofauna e mesofauna do solo com aplicação de diferentes fertilizantes, constatou que a composição orgânica do organomineral influenciou positivamente no desenvolvimento dos organismos do solo.

Em café, Costa et al. (2015) observaram que a aplicação de organomineral proporcionou maior produtividade na 4ª e 5ª safras de café Mundo Novo, em relação à adubação com fonte mineral, enquanto que Carmo et al. (2014) e Acra (2015) observaram aumento na produção e na disponibilização de P no solo com a aplicação de fertilizante organomineral.

Almeida (2017) e Caixeta (2015) verificaram melhorias nas características de crescimento e produção do tomate com a aplicação de fonte organomineral em relação ao mineral. Ferreira (2008 e 2012) observou que, ao aplicar organomineral à base de mamona e palha de café, na cultura da banana, houve controle da população de nematoides.

Além dos trabalhos citados, existem outras pesquisas, em campo e casa de vegetação, realizadas com critérios científicos, com repetições e em diferentes condições de clima e solo (baixa e alta fertilidade) para várias culturas.

Esses dados constituem um acervo que integra linhas de pesquisas de universidades, dissertações de mestrado e teses de doutorado, publicações em revistas científicas e de extensão.

7. Qual dose se deve utilizar para aplicação do fertilizante organomineral quando comparada ao fertilizante mineral, sem afetar a fertilidade do solo?

No geral, e semelhante a qualquer outro tipo de produto utilizado na agricultura, não existe uma receita de bolo para essa recomendação, que deve ser balizada principalmente em experimentos de equivalência de dose, fatores de perda, no tipo de fertilizante organomineral e em experimentos instalados em diferentes culturas e regiões.

 Atualmente, existe um consenso entre os pesquisadores, com base em pesquisas científicas já publicadas, que a adequação em aproximadamente 20 a 30% da quantidade de nutriente (NPK) utilizada seria um número aceitável, levando em consideração que os fertilizantes organominerais aumentam o aproveitamento dos nutrientes em até 70% para o nitrogênio, 50% para o fósforo e 80% para o potássio (Levrero, 2010), e o fato de que o fator de equivalência dos fertilizantes OMs vai de 18 a 50% (Franco, 2019; Teixeira, 2010).

Tabela 1: Aproveitamento de nutrientes em função do fertilizante (%) (Levrero, 2010).

Fertilizante N P K
Mineral 50 5-20 60
Organomineral 70 50 80
Perdas Volatilização e Lixiviação Fixação Lixiviação

8. A utilização de fertilizantes organominerais aumenta a produtividade das culturas mesmo com a redução da dose?

O aumento de produtividade geralmente é dependente de vários fatores no campo e a adubação é apenas um desses elementos. Analisando somente a adubação, é possível afirmar que a utilização de fertilizantes especiais, neste caso os organominerais, pode ser uma excelente ferramenta para aumento da produtividade, além de ser uma forma de fertilização mais sustentável do solo.

Somado aos benefícios como condicionador do solo, os fertilizantes organominerais reutilizam e aproveitam no seu processo produtivo, resíduos que inicialmente poderiam permanecer como passíveis ambientais, bem como fomentam a economia e agregam valor aos fertilizantes minerais. 

Muitas pesquisas vêm demonstrando a capacidade de aumento de produtividade proporcionada pelos fertilizantes organominerais em relação ao fertilizante mineral convencional em várias culturas, dentre elas: milho (Lana et al., 2019; Nunes et al.,2015), soja (Duarte et al., 2013; Alane, 2015; Almeida Júnior, 2017), batata (Cardoso et al., 2017), tomate (Caixeta, 2015, Almeida, 2017); alho (Justino Neto; 2018); cebola (Luz et al.; 2018); alface (Zandonadi et al., 2018); capim-marandu (Resende Júnior et al., 2016); café (Carmo et al., 2014; Costa et al.; 2015;); cana-de-açúcar (Ramos, 2013; Teixeira, 2013; Souza, 2014), dentre outras.

9. Com a aplicação do fertilizante organomineral é possível ter um menor custo na utilização deste produto na adubação das culturas?

Geralmente, os custos de utilização dos fertilizantes organominerais são variáveis de acordo com o mercado e os estoques ofertados. Na tabela 2 encontra-se uma simulação, para que se entenda melhor qual seria o custo por hectare da utilização de um organomineral quando comparado ao fertilizante mineral convencional, levando em consideração a quantidade aplicada e os custos dos fertilizantes no mercado.

Tabela 2. Simulação de custos de aplicação organomineral x mineral:

Fertilizantes Adequação  da dose Dosagem de estudo N (kg/ha) P2O5 (kg/ha) K2O (kg/ha) Preço dos fertilizantes (R$/ton) Valor por unidade de nutriente Custo (R$/ha)
Mineral  04-20-20 Dose total 400 16 80 80  R$     1.600,00  R$      36,36  R$ 640,00
Organomineral      03-16-16 Redução de 20% no NPK 400 12 64 64  R$     1.700,00  R$      45,71  R$ 680,00

Observa-se que o pequeno aumento do custo de adubação ocasionado pela aplicação dos fertilizantes organominerais (OMs) não deve ser um fator limitante para sua utilização. A escolha pela utilização do fertilizante organomineral não pode ser feita somente pelo custo dos insumos aplicados, pois é necessário considerar, sobretudo, o valor agregado da matéria orgânica presente nos organominerais.

 Diferentemente do que alguns profissionais dizem, não podemos desconsiderar a parte orgânica contida no organomineral, pois sem esta, voltaríamos à estaca zero e teríamos um simples fertilizante mineral com altos teores de perdas e baixo fator de eficiência (f).

Na verdade, a fração orgânica é a grande responsável pelo aumento na eficiência dos nutrientes, promovendo o que se denomina de “ganho físico, químico e biológico”, quando comparado com o fertilizante mineral convencional. 

A tabela 3 demonstra que os fertilizantes organominerais são capazes de conter em sua estrutura orgânica alto teor de carbono orgânico, aminoácidos, ácido húmico e fúlvico, proporcionando um alto valor agregado a este tipo de produto.

Tabela 3. Análise química – fertilizantes mineral e organomineral.

Fertilizantes Análise química
Carbono orgânico Aminoácidos totais Ácido fúlvico (kg/ton) Ácido húmico (kg/ton)
Mineral 04-20-20 0 0 0 0
Organomineral 03-16-16 > 8% ≅ 1,94% ≅ 8,8 ≅ 11,1

Assim, a análise da rentabilidade comparando o ganho de produtividade e o custo adicional é de suma importância quando se opta por utilizar os fertilizantes organominerais. Este cálculo fornece ao produtor uma análise pontual de lucratividade da operação e demonstra que nem sempre os insumos mais baratos são os que vão proporcionar ao produtor uma maior rentabilidade final da lavoura.

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