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sexta-feira, março 29, 2024
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Controle das Formigas cortadeiras na agricultura orgânica

Autora

Camila Rodrigues Alves Casarini
Engenheira agrônoma
casarini.ca@gmail.com
Crédito Shuttertock

No Brasil, as formigas cortadeiras do gênero Atta são conhecidas popularmente como saúvas e as Acromyrmex como quenquéns, totalizando cerca de 40 espécies, algumas das quais são sérias pragas para a agricultura brasileira, em especial para a agricultura orgânica.

Atualmente, cada vez mais se buscam alternativas biológicas de controle de pragas para evitar a exposição do aplicador e do ambiente a esses produtos. Nesse sentido, um insumo biológico para controle das formigas, associado a um método de fácil aplicação, pode ser uma importante proposta.

A Beauveria bassiana é um fungo entomopatógeno, ou seja, aquele que causa doença em um inseto. O mecanismo de ação desse fungo ocorre a partir do momento em que os esporos da Beauveria bassiana atingem o inseto, germinando e penetrando sua cutícula, colonizando os órgãos internos e liberando toxinas em seu interior, posteriormente causando sua morte.

Todo o processo ocorre entre dois a sete dias após o contato com o hospedeiro. O inseto infectado torna-se coberto por uma camada pulverulenta de cor branca. Eventualmente poderão ser utilizados outros fungos entomopatógenos em busca de maior eficiência e adaptação a condições ambientais diferenciadas.

O projeto em questão basicamente visa o controle dessas espécies de formigas cortadeiras, por meio da aplicação de fungos entomopatógenos, especialmente a Beauveria, diluído em substrato facilitador de sua multiplicação, o amido (de milho, de araruta e outros). Ainda como adjuvantes, poderão ser utilizados pós de rocha, como terra diatomácea, que causa abrasão nas articulações, facilitando a penetração no inseto. 

Todos esses materiais podem ser encontrados na forma de pó, e a mistura deles pode ser facilmente utilizada em aplicadores manuais ou mecanizados já existentes no mercado, com baixo custo.

Desafios

Resta, ainda, o desafio de testar diferentes formulações, além de determinar a quantidade necessária a ser aplicada em função da área ocupada pelo formigueiro. Nos testes iniciais conduzidos em diversos produtores, a utilização de uma mistura contendo 80% de amido e 20% de produto comercial com 1 x 108 de esporos viáveis de Beauveria bassiana mostraram-se promissores.

A grande vantagem de ter um produto que pode ser aplicado desta forma reside no fato do agricultor já dominar amplamente a tecnologia de aplicação. Assim, esta combinação de produto mais meio de aplicação poderá ter sua difusão e comercialização muito facilitadas, ao contrário dos materiais existentes hoje para o controle biológico de formigas cortadeiras.

Um grande desafio para o uso de agentes biológicos a campo é o estabelecimento rápido de uma grande população destes agentes no ambiente, de forma a se contrapor a população da praga ou doença-alvo do controle de maneira efetiva. Nem sempre o ambiente oferece condições favoráveis.

Na tentativa de mudar o meio ambiente para proporcionar melhores condições de multiplicação do agente biológico, também se busca, quando possível, realizar a aplicação durante o período do dia mais favorável (normalmente a noite), ou após irrigação ou chuva.

Em condições de campo, os produtores e técnicos procuram contornar o problema aumentando a dose de produto comercial e/ou a frequência de aplicação, ampliando a probabilidade de o agente biológico encontrar o alvo. Nesta direção de raciocínio ocorre cada vez mais a multiplicação de agentes biológicos a nível de fazenda, com o objetivo de diminuir os custos, apesar da dificuldade de se manter o mesmo nível de qualidade do insumo comercial.

Estratégias contra ácaros

Para uso de ácaros predadores, entretanto, que têm pouca mobilidade quando comparado a outros insetos-predadores alados, se utiliza uma outra estratégia. Identificam-se as reboleiras onde ocorre a praga em maior intensidade e neste local a aplicação do predador é feita em maior número.

Assim é maior a chance de o ácaro predador encontrar seu alvo, utilizá-lo como alimento e, desta forma, multiplicar-se, estabelecendo uma população cada vez maior.  Quando naturalmente a população da praga diminuir, ocorrerá redução dos predadores, caso não haja alimento alternativo.

Outras alternativas utilizadas para diminuir o custo de tratamento biológico estão voltadas para métodos e equipamentos para dispersão do agente biológico de maneira a obter os melhores resultados de controle com o uso de georreferenciamento e monitoramento.

Possibilidades de uso deste protocolo

Sem prejuízo das abordagens até aqui utilizadas para uso do controle biológico, este protocolo busca explorar uma nova abordagem para aumentar a eficácia da utilização de agentes de controle biológico, especialmente os microbiológicos, que dependem de métodos efetivos e equipamentos adequados para sua dispersão a campo.

A intenção é aproveitar a capacidade destes agentes de controle de colonizarem o ambiente pelo aporte intencional de substrato para sua multiplicação. Esta pode ser uma forma mais adequada de trabalhar com pragas como formigas cortadeiras, cupins, nematoides, larva alfinete, tripes, bicudo-da-cana e outras pragas de solo. Mesmo para algumas doenças de solo, esta também pode ser uma abordagem viável.

Tradicionalmente se buscou aumentar a dose e/ou a frequência de aplicação de produto comercial para conseguir um nível de controle desejado das pragas e doenças, semelhante à forma de utilização de controladores químicos.

Talvez a possibilidade de o agente biológico ter a capacidade de se multiplicar a campo tenha sido negligenciada nos protocolos hoje em utilização. Esta pode ser uma variável interessante de ser explorada, principalmente se apoiada por métodos e equipamentos que possibilitem a aplicação econômica do agente controlador e do substrato facilitador de sua multiplicação.

Em situações específicas, como colônias de formigas e cupins, até mesmo outros adjuvantes, como terra diatomácea, que podem aumentar a ação do agente biológico, podem ser testados.

O desafio é estabelecer uma interação viável entre:

ð As necessidades do agente biológico para se manter e multiplicar em determinada condição ambiental;

ð A disponibilidade de um substrato que possibilite a multiplicação do agente biológico a um custo adequado;

ð Um equipamento que consiga aplicar de forma adequada e no momento mais correto o agente biológico e seu meio de multiplicação, e

ð A capacitação efetiva das pessoas, para entenderem a proposta de estabelecimento de uma dinâmica de populações entre as pragas/doenças e os agentes biológicos de controle.

Viabilidade para agricultura orgânica

A operacionalização deste protocolo em propriedades com certificação orgânica é bastante viável, uma vez que utiliza agentes biológicos para controle de pragas e doenças que são autorizados pelas normas vigentes.

Um complicador no processo pode ser a exigência quanto à autorização prévia pelo organismo de certificação dos substratos facilitadores de multiplicação. São substâncias encontradas no mercado e destinadas a consumo humano, mas nem sempre tem informações específicas sobre transgenias ou possui ficha de segurança.

Se o procedimento para autorização exigir toda essa documentação, provavelmente o produtor, principalmente o pequeno, não irá adotar o protocolo, pois são diversas marcas e fontes (milho, batata, mandioca, araruta, etc.) que necessitariam de autorização.

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