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Videira australiana é solução contra ferrugem da soja

Luís Paulo Benetti Mantoan

Doutorando em Ciências Biológicas/Fisiologia Vegetal – UNESP

Carla Verônica Corrêa

Doutoranda em Agronomia/Fisiologia Vegetal – UNESP

cvcorrea1509@gmail.com

Crédito Miriam Lins
Crédito Miriam Lins

A Glycine tomentella (videira australiana) é uma das 26 espécies perenes semelhantes à soja, sendo esta em especial nativa da Austrália. O gênero desta espécie pertence ao mesmo gênero da soja (Glycine max), que é cultivada no Brasil e em outras partes do mundo.

A videira australiana apresenta um genoma complexo, em que indivíduos diferentes podem apresentar variação no número de cromossomos (2n=38, 40, 78 e 80). Além disso, a videira australiana apresenta grande potencial como fonte de recursos genéticos para o melhoramento da soja por se tratar de uma planta selvagem com grande variabilidade genética, apresentando reconhecida capacidade de tolerância à ferrugem, como apontado pelos pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

Em estudo realizado por estes mesmos pesquisadores foi alcançado, por meio do cruzamento do híbrido formado por Glycine tomentella X Glycine max com a própria Glycine max, uma variedade de soja com resistência à ferrugem e maior produção.

Vantagens

Por se tratar de uma variedade selvagem de soja, a espécie Glycine tomentella pode fornecer melhorias na variabilidade genética da soja cultivada que conhecemos. As variedades selvagens são selecionadas naturalmente ao longo do tempo para as mais diversas condições de estresse que ocorrem na natureza e carregam tais adaptações em seu material genético.

Algumas destas variedades selvagens podem apresentar genes que proporcionam maior tolerância a estresses abióticos, como déficit hídrico e até resistência a doenças como a ferrugem, como no caso do estudo realizado na Universidade de Illinois.

Muitas vezes os melhoramentos realizados na soja e em outras espécies cultivadas com o intuito de produzir variedades com melhor produção podem causar a perda de alelos que melhoram a capacidade de tolerância aos estresses abióticos e bióticos.

Tal fato diminui a variabilidade genética da soja e contribui para que ela se torne uma planta suscetível às mais diversas condições. Isto gera como consequência o aumento nos gastos com o manejo da cultura, visto que maiores despesas com defensivos e adubação serão necessárias.

Desta forma, uma alternativa para se resgatar a rusticidade da soja, e por sua vez a redução nas despesas com manejo, é o cruzamento da variedade cultivada com as suas respectivas variedades selvagens, a fim de recuperar a variabilidade genética.

Em estudo

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, a espécie Glycine tomentella é conhecida por apresentar tolerância à ferrugem. Muitos pesquisadores tentaram introduzir os genes responsáveis por esta característica na soja cultivada, contudo, o híbrido gerado no cruzamento entre Glycine tomentella e Glycine max gerava sementes estéreis, o que dificultava a produção de uma variedade de soja tolerante a ferrugem.

Entretanto, a equipe da Universidade de Illinois continuou os experimentos até desenvolver um tratamento hormonal à base de ácido giberélico, ácido naftaleno acético e cinetina que interrompe o abortamento das sementes hibridas.

Os embriões destas sementes foram cultivados em meio de cultura, a fim de se obter várias plantas a partir de uma única semente. Estas plantas hibridas foram cultivadas em casa de vegetação, onde foram mantidas até o florescimento. Neste momento ocorreu o cruzamento entre a variedade híbrida de soja com a soja cultivada, por meio da retirada de pólen da planta híbrida para a polinização da soja cultivada que conhecemos (Glycine max).

Este mesmo cruzamento se seguiu por várias vezes entre as plantas descendentes do cruzamento com a espécie Glycine max até se obter uma variedade geneticamente estável e semelhante à soja cultivada, porém, com as características de tolerância à ferrugem que a espécie Glycine tomentella apresenta.

 

Sintomas de ferrugem em folha de soja - Crédito Mauricio Meyer
Sintomas de ferrugem em folha de soja – Crédito Mauricio Meyer

Resultado final

De acordo com os pesquisadores da Universidade de Illinois, a capacidade de tolerância de Glycine tomentella contra a ferrugem já era conhecida há tempos. Porém, devido à incompatibilidade entre as espécies Glycine tomentella e Glycine max, não foi possível, até o presente momento, criar um híbrido fértil que pudesse ser utilizado em um programa de melhoramento genético para a soja.

A grande variabilidade genética que as plantas selvagens apresentam possibilita que genótipos com tolerância a esta doença sejam selecionados naturalmente. Sendo assim, utilizar estas plantas com a finalidade de aumentar a variabilidade da soja cultivada pode ser a solução para os mais diversos problemas que a cultura apresenta.

Realidade brasileira

No Brasil, a ferrugem é a principal doença responsável pela perda de produtividade da soja. Sendo assim, uma variedade de soja capaz de tolerar a ferrugem pode resultar na manutenção da produtividade da soja brasileira em períodos onde o clima favorece o aumento na incidência desta doença.

Além disso, também ocorrerá a redução nos custos relacionados ao uso de defensivos agrícolas. Contudo, ainda não se sabe sobre a capacidade de aclimatação desta nova variedade para o clima brasileiro. Assim que esta cultivar estiver disponível para os agricultores, serão necessários estudos que confirmem se esta variedade de soja será capaz de se aclimatar às condições de clima e solo brasileiro.

Caso isto não ocorra, será necessário que o mesmo estudo realizado na Universidade de Illinois seja feito com uma variedade comumente cultivada no Brasil.

 

Essa matéria completa você encontra na edição de junho de 2018 da Revista Campo & Negócios Grãos. Adquira o seu exemplar para leitura completa.

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