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Mal das folhas – Sério problema para a heveicultura nacional

Ernane Miranda Lemes

Engenheiro agrônomo, fitopatologista e doutor em Fitotecnia

ernanelemes@yahoo.com.br

José Geraldo Mageste

Engenheiro florestal, doutor e professor – ICIAG-UFU

jgmageste@ufu.br

Fernando Bacilieri

Engenheiro agrônomo e doutorando Agronomia – UFU

ferbacilieri@zipmail.com

Crédito Edson Luiz Furtado
Crédito Edson Luiz Furtado

A heveicultura, ou cultura da seringueira (Hevea brasiliensis), é consideravelmente afetada pela ocorrência da doença comumente denominada mal das folhas, causada pelo fungo Microcyclusulei. Trata-seda doença foliar mais destrutiva dos seringais, e foi responsável pelo fracasso do projeto de produção comercial de borracha nos seringais de Fordlândia (PA) e em Belterra (MA), em 1928. Após sucessivas ocorrências do ataque da doença, a Companhia Ford entregou o controle do projeto (10.000 ha de área plantada) e todos os demais investimentos para o governo brasileiro, em 1946.

O mal das folhas é o principal problema para o estabelecimento de seringais de cultivo em diferentes regiões do Brasil, especialmente nas áreas de ocorrência natural da espécie, ou seja, a Bacia Amazônica. O mal das folhas ataca apenas a espécie Hevea brasiliensis, que é a mais plantada e mais produtiva do gênero Hevea. Ela não afeta, por exemplo, a H. pauciflora e a H. benthamiana.

Danos

Entre os danos mais comuns causados pelo mal das folhas está a desfolha prematura de árvores adultas. Este efeito da doença atrasa o crescimento da seringueira, favorece a incidência de outras doenças, reduz a produção de látex e pode levar os indivíduos à morte. Muitos seringais podem produzir relativamente bem, caso não haja ataque deste fungo. Nas chamadas “regiões de escape“, esta doença pode ocorrer, porém, não em forma epidêmica, ou seja, com uma gravidade tal que possa levar à morte.

O mal das folhas da seringueira é também conhecido como “pinta preta da seringueira“, porque nas folhas mais velhas aparecem pontos de variados diâmetros (0,5 a 5 mm), inicialmente na superfície superior (adaxial) da folha, e posteriormente, em ambos os lados.

Inicialmente, os pontos são de uma cor verde oliva escurecida e, posteriormente, se tornamnegros. As manchas são enegrecidas e ásperas, dado o tecido estomático do fungo, onde proliferam as estruturas assexuadas de dispersão (conídios ou esporos). A dispersão da doença ocorre a curtas distâncias pelas gotas de chuva e a longas distâncias, pelo vento.

O uso de enxertia eleva a resistência à doença - Crédito Paulo Brito
O uso de enxertia eleva a resistência à doença – Crédito Paulo Brito

Sintomas

Os sintomas podem ser identificados em folhas novas (até três semanas de idade), quando ainda estão no estágio de lançamento marrom (principalmente no viveiro). Ocorrendo a doença neste estágio, não haverá o amadurecimento das folhas (passando do estágio fisiológico de dreno para fonte), podendo levar o indivíduo à morte.

Nas chamadas áreas de escape, ou seja, aquelas situadas fora da região amazônica, onde o reenfolhamento do seringal ocorre na estação do ano de menor umidade do ar (julho a setembro), a germinação dos esporos é prejudicada e a doença tem dificuldade de se instalar.Seu ciclo médio varia de 100 a 150 dias (Gasparottoet al., 2016).

Mal das folhas - sintomas nas folhas novas em plantio - Crédito Edson Luiz Furtado
Mal das folhas – sintomas nas folhas novas em plantio – Crédito Edson Luiz Furtado

Prejuízos

O principal prejuízo causado a um seringal por uma epidemia é a desfolha das árvores, que caso ocorra sucessivamente pode levar à morte da planta. A infecção em plantas de viveiro ou em condições de jardim clonal induz facilmente à morte ou à dificuldade de produção de hastes.

Em seringais adultos (após o 6º ano), a desfolha limita a produção de látex, além de reduzir o crescimento vegetativo das plantas e o menor crescimento em diâmetro, reduzindo a quantidade de vasos lactíferos e, consequentemente, a produção.

O estresse causado às seringueiras devido a uma epidemia de mal das folhas também favorece o desenvolvimento de outras doenças, como por exemplo,Colletotrichum spp.,Lassiodiplodiatheobromae ePhomopsis, o que torna potencialmente perigosa qualquer ocorrência dessa doença.

O mal das folhas se desenvolve e se dissemina entre as plantas em condições de temperatura entre 23 a 28°C, umidade relativa do ar superior a 80% e presença de filme d’água na superfície foliar. Daí a sugestão de instalação de seringais na face leste do relevo para que logo pela manhã a superfície das folhas fique completamente seca com a ajuda dos raios solares.

No entanto, o fator mais importante para o surgimento e estabelecimento dessa doença é a elevada suscetibilidade genética dos materiais cultivados.

Há, no mercado, materiais genéticos tolerantes a essa doença - Crédito Afonso Pedro Brioschi
Há, no mercado, materiais genéticos tolerantes a essa doença – Crédito Afonso Pedro Brioschi

Genética

Há, no mercado, materiais genéticos tolerantes a essa doença, entre os quaiscitam-se alguns clones da família dos Fx (Fx 2261, Fx 3864, Fx 3281, etc).Estes clones são oriundos dos plantios de Fordlândia e Belterra.

O Instituto Agronômico do Norte selecionou alguns clones, como oIAN 873 e 874, que também apresentam alguma tolerância quando cultivado nas regiões de escape.Ultimamente, o Instituto Agronômico de Campinas vem comercializando bons clones adaptados a condições climáticas variadas do território brasileiro. Daí, o uso destes deve ser feito sob indicação desta instituição.

Do RuberResearchInstituteofMalasian (RRIM) são divulgados para uso nacional, principalmente na região centro sul, os clones RRIM 600, RRIM 601, RRIM 401 e RRIM 270. Mas, o clone de maior produtividade e resistência às condições climáticas variáveis das várias áreas de escape é o F 45, de origem dos plantios da Firestone.

Atualmente, existe um grande esforço do melhoramento genético da seringueira para desenvolver materiais genéticos resistentes ou tolerantes ao mal das folhas, ou até mesmo nas condições tropicais úmidas.

Essa matéria completa você encontra na edição de março/abril 2018  da revista Campo & Negócios Floresta. Adquira já a sua para leitura integral.

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